Oi, leitor do Pimentas!
Hoje, dia da Consciência Negra. Data importante, não só para lembrar mas para inspirar, motivar, questionar. Não é importante só porque é feriado nacional, não. Aliás, se é feriado, porque é que aqui estamos todos trabalhando? Devia ser feriado pra todo mundo, inclusive pra mim, uai. E de mais a mais, não adianta o Governo criar um feriado nacional pra fazer média. Tem mesmo é que criar condições pra que a sociedade deixe de lado os coronelismos que ainda fazem gente pensar que cor de pele mostra quem tem caráter ou não tem...
E o leitor que me conhece talvez pergunte o que eu sei sobre Consciência Negra, etc, sendo branco.
Fui criado por uma família negra. Cresci com eles, ouvi suas músicas e gostei, passaram também a ser minhas músicas. Vi suas danças, não aprendi nenhuma porque eles nasceram sabendo dançar e eu já desisti a tempos de aprender, mas admirei também suas danças. Vi como cresceram, como enfrentaram as barras que uma sociedade hipócrita e dissimulada como a nossa lhes impuseram. Vi inúmeras vezes o desprezo que colheram, e as portas que se abriram pra mim muito mais facilmente, só por causa da minha cor, mesmo quando eles foram mais merecedores.
E vivi na pele o preconceito, quando acabei jogado na vala comum dos brancos sem consciência...
Pronto, já posso imaginar gente se descabelando com essa. Como é que esse branquelo pode dizer que sofreu preconceito? Simples, leitor: fui a ovelha branca da família. Isso não me deu a melhor das relações com a parentada, muito menos com o sujeito que assina minha certidão de nascimento como meu pai, muito a seu contragosto, contrariado por cada uma das vezes em que foi questionado sobre ter um filho branco, o que era no mínimo suspeito. Some-se o falatório de gente que não tinha o que fazer, comentando sobre o filho do negão ter nascido branco, e vai por aí... isso, nos idos da década de 70, deve ter sido difícil pra ele, eu sei. E foi pra mim, também. Mas eles não tiveram culpa, ninguém teve. Nem minha mãe, que se não tivesse me adotado, certamente teria muito menos problemas, talvez tivesse o marido ao lado, teria mais amor dos filhos... mas abriu mão de tudo isso pra me salvar.
Fato é que eu tenho uma visão bastante particular sobre o preconceito, sobre o racismo. Sei como ele é, convivi com ele desde o berço, até boa parte da minha vida adulta. As vezes em casa, e as vezes fora dela por associação. Sei que é uma idiotice. E seria bom que todo mundo soubesse, também. Há uma canção que diz que "se soubesse o valor que o preto tem, tu tomava banho de piche, branco, e ficava preto também". Seria bom que todo branco, como eu tivesse um dia de negro, e quem sabe nossa sociedade deixasse de ser tão hipócrita. Eu tive vários... e foi bom. Talvez eu também fosse mais um preconceituoso, se não tivesse visto a coisa pelo outro lado.
Vejo muitas camisetas 100% negro, por aí. Acho bacana. Só vi uma 100% branco uma vez, mas terminou em confusão, com um monte de gente chamando o moleque de racista (maioria branca, observe-se). Um dia, espero, hajam camisetas alusivas ao orgulho de ser negro, ao orgulho de ser branco... mas ainda espero o dia em que todos nesse país grande e bobo possamos usar com orgulho uma camiseta "100% iguais", e quem sabe teremos políticos melhores, governos melhores e uma sociedade mais humana pra todos...
Meu marido é preto, vários dos meus tios e primos são pretos. Meu filho vai ser preto.
ResponderExcluirEu sou branca.
Se as mulheres e os pretos acreditassem em si mesmos ao invés de ficar buscando alternativas separatistas achando que são inclusivas, como cotas e supostas igualdades nos direitos, conquistariam o mundo!
Mulher não vota em mulher, preto não vota em preto. Aliás, preto famoso nem casa com preta, e nem acho que seja obrigado a isso: pessoas não são a cor da sua pele, mas sim da sua alma.
Já diria Kanak: Alma não tem cor.
Cara Ana,
ResponderExcluirA vida segue o curso; não, o discurso.
As políticas afirmativas devem ser temporárias, devem funcionar como um dos meios para alcançarmos o estilo de convivência que você acredita ser possível.
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Cara Shasca
ResponderExcluirSou deficiente visual, já me ofereceram vaga de emprego "só por isso", pouco importava minha qualificação profissional. Isso não é inclusão, é imposição!
"Aí é que me refiro", sabe? As políticas atingem o público certo de uma forma errada, e isso já tem lá seus méritos.
Mas acho que o buraco é mais embaixo. Que tal oferecer educação e cultura pra todas as etnias, considerando que são todos humanos, e não selecionando a espécie pela cor?
E acredito sim que seja possível, azar, eu tenho fé no ser humano.
Beijo, obrigada pela visita ao Pimentas e por seu comentário!
André, adorei o “100% iguais”, mesmo porque o preconceito não é somente devido a cor, se a pessoa é baixa, se é alta, se é magra , se é gorda, se tem alguma deficiência física e assim vai...
ResponderExcluirDe certa maneira eu também sofro com o tal do preconceito, mas não me esqueço nunca que o importante mesmo é o caráter da pessoa.
Parabéns pelo post.
Ana, Shasça e Kátia:
ResponderExcluir100% iguais, somos todos. Um dia, se Deus quiser, todos pensaremos assim também.
Eu é que sou 100% agradecido a vocês pelo carinho!