18 janeiro 2010

Literatura de Auto-ajuda com pimenta



Não gosto de literatura de auto-ajuda. Nada contra quem a lê, apenas acho que tudo que ela prega não cabe em minha vida. Ou até cabe, mas não da forma óbvia e geralmente açucarada que ela expõe: prefiro ( e necessito) buscar nas artes os subsidios externos para enfrentar algum problema. Como um humilde datilógrafo (ops...acho que peguei isso da Barbara Gancia, preciso devolver) do reino dos pimentas, sinto-me no dever de dividir com vocês, queridos leitores (ops...esse é o blog da Rosana Hermann, que até já no deu uma entrevista,aliás...), alguns dos momentos artístiticos que eu uso quando sinto que preciso de doping espiritual...

Começo desde já com um apud, (apud, pra quem não sabe, é a citação de um autor que você leu em um livro de outro autor - você está lendo Paulo Coelho e ele cita 3865 histórias, em 200 páginas, de outros autores . Isso se chama apud): o meu autor preferido, Rubem Alves, certa vez mencionou um trecho de um livro de Carlos Castañeda chamado Viagem a Ixtlán onde o feiticeiro de determinada comunidade indígena conversava com o autor, um antropologo, e dizia:


A morte é a nossa eterna companheira. Ela está sempre à nossa esquerda, ao alcance do nosso braço. A coisa a fazer, quando você se sente infeliz é voltar-se para a sua esquerda e pedir que a sua morte o aconselhe. E uma imensa quantidade de mesquinhez desaparece se a sua morte lhe faz um gesto ou se você simplesmente tem o sentimento de que a sua companheira está alí, olhando para você. 




A morte é a única conselheira sábia que temos. Sempre que você sentir, como sempre acontece, que tudo está errado e que você está ao ponto de ser aniquilado, volte-se para a sua morte e pergunte-lhe se assim é. Sua morte lhe dirá que você está errado. Nada realmente importa, a não ser o seu toque. Sua morte lhe dirá: ‘Ainda não o toquei.' "



Sim, o texto pode soar como um chute no estômago de quem gosta de ler coisas como "pense firmemente em algo que isso se tornará realidade" (frase que, a grosso modo, resume dezenas e dezenas de manuais de neurolinguistica) mas para mim traz uma energia renovadora, deixando-me pronto para o enfrentamento dos desafios mais delicados do cotidiano.

Porém nem só de mensagens pesadas subsiste meu cardápio, longe disso - o famoso Poeminha do Contra, de Mario Quintana, resume bem a leveza com a qual gosto ( ou pelo menos gostaria) de encarar os fatos:

Todos esses que aí estão
atravancando meu caminho,
eles passarão...
eu passarinho





Há também músicas que fazem bem. Canções que carregam em suas letras mensagens de otimismo e esperança que, pelo menos a mim, fazem acreditar que tudo vai dar certo (seja lá o que significar "tudo" e "certo" dentro de cada contexto). Talvez a você também faça bem - leia esses versos:




Amanhã!
Apesar de hoje
Será a estrada que surge
Prá se trilhar
Amanhã!
Mesmo que uns não queiram
Será de outros que esperam
Ver o dia raiar




Muitos anos antes de Guilherme Arantes, um músico intelectualizado, escrever esses versos, Nelson Cavaquinho, um gênio genuíno do samba, com a sabedoria da vida mas sem a cultura acadêmica formal (produto hoje disponível em qualquer UniTaleban da vida,aliás) já afirmava que:




O sol há de brilhar mais uma vez
A luz há de chegar aos corações
Do mal será queimada a semente
E o amor será eterno novamente


Gonzaguinha, talvez o maior compositor do otimismo consciente, o mesmo que cantava que a "vida é bonita, é bonita e é bonita" e afirmava que "é tão bonito quando a gente sente que a gente é tanta diferente gente...toda pessoa sempre é a marca das lições diárias de outras tantas pessoas..." também fez seu hino de fé em um futuro melhor, mas sempre como resultado de um hoje bem planejado:

Ontem um menino que brincava me falou
que hoje é semente do amanhã...



Para não ter medo que este tempo vai passar...

Não se desespere não, nem pare de sonhar



Nunca se entregue, nasça sempre com as manhãs...

Deixe a luz do sol brilhar no céu do seu olhar!
Fé na vida Fé no homem, fé no que virá!



nós podemos tudo,


Nós podemos mais
Vamos lá fazer o que será







Enfim...que em 2010 possamos todos sermos pessoas cada vez melhores, construindo futuro cada vez melhores a partir de um "hoje" cada dia melhor...

2 comentários:

  1. Muito legal o post, eu detesto livros de auto ajuda, pra mim são como novelas, subestimam minha inteligência, eles me irritam e não me ajudam. Eu também gosto muito das músicas, as vezes peço pro Chico Buarque gritar pra mim: "amanhã, vai ser outro dia!!! tem um ar de vingança, adooooooro, rsrsrs.
    Boas férias!

    ResponderExcluir
  2. Eu não entendia essa música do Chico Buarque na época. Achava que ele estava reclamando de Deus. Só depois de um tempo, percebi que era indireta aos militares. Apesar de você, amanhã há de ser outro dia.Falando do post, eu também não gosto de livro de auto ajuda.Conforme a idade foi chegando, deixei de acreditar em muitas coisas, uma delas é horóscopo. Fernando, senti sua falta no twitter ontem. Não disputamos o jogo das 3 pistas. Te espero no próximo domingo, ou no 1 contra 100

    ResponderExcluir

Apimente você também

Artigos recentes