24 novembro 2009

Pitta: um mandato que SP prefere esquecer

Olá, povo do Pimentas



Morreu nesse fim de semana o ex-prefeito de SP, Celso Pitta, vítima de um câncer no intestino. Seu velório e enterro foi algo consideravelmente simples, com pouco mais de 30 pessoas presentes, sem nenhuma honra de ex-prefeito, nem qualquer autoridade presente. Por que?

Eleito em 1996 com 53% dos votos válidos, após intensa campanha de Paulo Maluf, que na época era o prefeito de SP (chegou a afirmar: "se o Pitta não for um bom prefeito, nunca mais votem em mim"), Pitta já assumiu a cidade sob denúncias de corrupção, e herdou uma cidade com mais de 1 bilhão de reais em dívidas. Sua primeira medida na capital foi cortar verba de setores essenciais da cidade, como limpeza pública, o que resultou em lixo amontoado por todos os lados da cidade.

O mandato de Pitta foi marcado pela promessa do "Fura-Fila", corredor de metrô leve que ligaria o centro de SP ao Sacomã, na zona sul. O tal Fura Fila nunca saiu, apenas algumas torres de concreto enfeiavam a cidade. A construção só veio a ser aproveitada na gestão do prefeito Kassab, que fez ali o Expresso Tiradentes. Uma obra totalmente inútil, mas pelo menos terminou o concreto exposto que o Pitta deixou por lá.



Quem não se lembra dos postos de saúde na gestão Pitta, que operavam sob o obscuro "Plano PAS (programa de assistência à saude), que resultou basicamente em postos abandonados, sem médicos nem remédios, com apenas umas enfermeiras mal pagas que maltratavem qualquer um que se apresentasse procurando um médico.



Além disso, o transporte em SP era caso de polícia. Além das carcaças enferrujadas que circulavam pela cidade, os ônibus viviam lotados, com linhas que não atendiam toda a cidade e intervalos de tempo enormes. As cooperativas mandavam e desmandavam na Secretaria de Transportes, o que resultava em greves sem sentido, simplesmente para justificar a falta de vontade de ir ao trabalho. Essa situação caótica do transporte público de SP propiciou o surgimento dos famigerados lotações e "ônibus clandestinos", comandados por facções criminosas como o PCC (sim, os lotações eram dominados pelo PCC), que atrapalhavam o trânsito de SP e colocavam em risco passageiros, ao fazer manobras arriscadas nas avenidas por puro exibicionismo. Essa situação só veio a ser resolvida na gestão da prefeita Marta Suplicy (PT), que tirou autonomia das cooperativas de ônibus e entregou a responsabilidade dos lotações à SP Trans, além de aumentar consideravelmente a fiscalização. Para se ter uma ideia de como era a situação, a prefeita Marta chegou a ser ameaçada de morte pelos donos de cooperativas e teve de participar de reuniões com seguranças e coletes à prova de balas. O atual prefeito Kassab (DEM) melhorou a situação ao aparelhar a SPTrans e dar total autonomia a ela sobre o transporte público de SP.

Resumindo, Pitta entregou a sua sucessora Marta Suplicy uma prefeitura destruída, com dívidas que passavam de 1 bilhão e setores totalmene abandonados. Além disso, Pitta respondia a diversos processos por corrupção, desvio de verbas públicas e etc. A pequena experiência política de Pitta foi das mais intensas, e das piores.



Acho que isso justifica o funeral sem qualquer brilho de ex-prefeito que Pitta teve. O prefeito Kassab (que foi secretário de planejamento na gestão Pitta) se limitou a dizer que "a perda de qualquer pessoa é difícil". O governador Serra sequer se manifestou. Nem mesmo seu padrinho Maluf apareceu.

São Paulo não tem de que se orgulhar por ter elegido Pitta uma vez, pelo contrário: sua administração faz parte de um passado que São Paulo prefere esquecer. Ele encerra a carreira e a vida deixando lembranças de um passado público sombrio e difícil.

Lógico que não fico feliz pela morte de qualquer pessoa, independente do que ela tenha feito. Mas Pitta não merecia qualquer honra. Uma ironia, já que em pleno feriado de consciência negra, morreu o primeiro (e único, até agora) prefeito negro que SP teve em toda sua história.

Fazer o que?

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