20 novembro 2009

Descuido fatal: o culpado foi o sol?

Olá leitores do Pimentas no Reino,

Estamos vivendo uma crise de "quem é o culpado" no nosso país há muito tempo.

Como meu avô, já famoso aqui no Pimentas por suas citações, dizia:
"Filho feio nunca tem pai!"

E assim atravessamos a semana buscando ajuda de caciques desencarnados para explicar o apagão, e outras atitudes do tipo "mato ou morro" (ou corro para mato ou corro para o morro), mas não assumo a culpa...

Dentre tantas futilidades que ocuparam as redações dos jornais e revistas esta semana, um fato me deixou muito indignado e surpreso...





A criança sofreu queimaduras pelo corpo depois de "fritar" cerca de cinco horas dentro do veículo. E ser resgatada pela polícia após uma denúncia por telefone... A mãe e autora do "descuido fatal" alegou "quebra de rotina" como defesa, prestou depoimento na delegacia e foi pra casa!




Em um dia de sol forte, a temperatura pode passar dos 50ºC dentro de um carro fechado e estacionado ao sol. 

Não entro aqui no mérito de que castigo pior do que perder a filha a mãe não necessita, não questiono se essa infeliz está sofrendo ou não...

Só questiono:
Cinco horas é esquecimento ou morte cerebral?

O que pode ser tão importante na vida de um pai ou uma mãe que os façam ignorar biologicamente suas crias e substituí-las, ainda que temporariamente, por compromissos subjetivos?
"Cumprimento do dever"?
"Responsabilidade"?

Será que não estamos distorcendo o princípio de AMAR pessoas e USAR coisas para USAR pessoas e AMAR coisas?

Será que na busca frenética por posição e reconhecimento não estamos nos afastando cada vez mais do que realmente importa?

Vou ser totalmente sincero e dar minha cara pra quem quiser bater:
- Não considero isso descuido, descuido é perder carteira, esquecer celular, o farol do carro ligado ou mijar na tampa da privada...
- Não concordo com a defesa de que o sofrimento já isenta de culpa. Se este critério fosse usado para decidir se alguém cometeu um crime ou um descuido, metade da população carcerária estaria nas ruas...
- Confesso que só consigo imaginar os momentos terríveis de agonia que essa criança passou...
- Não quero aqui apedrejar a mãe, se assim merece ser chamada, em um momento tão difícil da sua vida! 
- Mas só consigo ver uma culpada!
Lógico que não sou juiz e muito menos Deus, pra sorte dessa excelente funcionária e péssima mãe!

Que Deus me perdoe o julgamento, mas quem "refresca bunda de pata é lagoa!"
E lagoa eu não sou...

Pronto falei!

8 comentários:

  1. Beto , não tinha visto esta notícia, mas fiquei chocado com isso!!!
    Concordo com todas as palavras deste post!!

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  2. Também não concordo que o sofrimento a isenta culpa. Também não concordo que foi descuido.
    Psiquiatra foi na tv (tentar) explicar o caso, mas ficou seis por meia dúzia. Quebra de rotina... eu hein.

    No caso do apagão, bom, só sei que fiquei 4 horas sem energia aqui e o governo meteu a culpa nos raios ... E eu perdi a entrevista do Ronaldo no Jô Soares (ainda bem que foi reprisada).

    Calma! Brincando pra relaxar um pouco...

    Beijos

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  3. Concordo em gênero, número e grau...sou mãe e com certeza nenhum cumprimento de dever me faz esquecer minha cria.

    Bjos e valeu pelo post.

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  4. Beto, parabéns pelo post.

    Foi pertinente e muito bem colocado.

    Abração!

    Inté, Zé!

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  5. Oi Beto!
    Essa história é chocante! Sou mãe e me colocando no lugar dela, imagino que a pior condenção vai ser feita pela própria mente dessa mãe. Vai se culpar e as consequencias dessa culpa ninguém sabe no que vai dar.
    De cara ela perdeu a nenê, o marido, e a outra filha, que com certeza perdeu a confiança na própria mãe.
    Acho que a maior vítima agora é essa menina de 6 anos, que num golpe só perdeu irmã, mãe e pai.
    Duvido da continuidade dessa família junto. E da sanidade desses pais em poder tocar o barco pra frente e criá-la. Ela perdeu a família.
    Não acredito em rotina diferente no dia. Mas acredito que essa mulher deve estar passando por uma situação na sua própria vida de grande preocupação, com noite mal dormida, falta de dinheiro etc.
    E aqui fica uma outra questão que frequentemente discuto: a mulher acumula muitas funções, ela é a profissional (com todos os problemas de um dia de trabalho); ela é a mãe, a esposa, a filha, muitas vezes é quem faz todo o serviço de dona de casa. Trabalha o dia inteiro e ainda tem que fazer jantar, colocar roupa na máquina, passar as roupas do dia anterior. Preparar comida , mamadeiras pras crianças no dia seguinte na escola, fazer pagamentos. E ainda sorrir, ser simpática e ser boa amante.
    Ao homem é dado uma unica função o de trabalhar.
    A mulher saiu para o mercado de trabalho, e acumula funções. Tem dupla, as vezes tripla jornada de trabalho.
    A mulher tem que sair para trabalhar para complementar o salário do marido, e a família obter melhores condições de vida. Isso é exigido de nós o tempo todo. Somos invadidos pelos comerciais e cobrados pela própria sociedade consumista, more em tal lugar, seu carro tem que ser o do ano, filhos estudando nas melhores escolas, curso de ingles, natação, ballet, viagens de fim de semana, viagens de férias. A vida de nossos pais era muito mais simples.
    Acho que o papel da mulher brasileira na sociedade tem que ser repensado. Dar a ela melhores condições, maior divisão de tarefas (homens brasileiros machistas não lavam uma louça)
    Essa mãe, com a cabeça quente - falhou. Acabou com sua família. Mas jamais faria isso de propósito. Muitos estão dando depoimento de que era uma mãe carinhosa, zelosa. Sua filhas estavam bem cuidadas.
    Não acredito em quebra de rotina, mas de cabeça quente, cansaço, stress, com toda certeza.
    Ela vai estar presa pela sua propria mente e vai precisar de muito carinho, e amor para conseguir superar essa fatalidade. Que ela encontre forças no amor pela outra filha que ficou.

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  6. Beto, ótimo texto.
    Ilse, sábias palavras do comentário, que por sinal, deveria virar post.

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  7. Ilse,
    concordo em parte com você...
    Mas esquecer filho, mesmo com tripla jornada de trabalho, é demais pra mim...
    Quando meu primeiro filho nasceu e descobrimos que ele era "deficiente", eu e minha esposa conversamos, ela saiu do emprego e passou a dar toda a atençao ao guri...
    Não foi fácil, eu tinha que fazer milagre, "tripla jornada" era pouco, mas sempre tive tempo pro meu magrelinho, e a recompensa só veio 18 anos depois...
    Não sou perfeito, longe disso, mas sempre arrumei tempo pra ser pai em meio a todo stress, afazeres, responsabilidades e frustraçãoes...
    Por isso ratifico minha posição...
    Sofrimento não isenta de culpa!
    Se a mãe em questão, perdeu marido, família, ou se vai perder o juízo (se é que já teve), só está colhendo o que plantou!
    A semeadura é opcional mas a colheita obrigatória...
    É isso que penso Ilse, desculpe por não ser tão evoluído espiritualmente quanto você!
    Mas aprendi que imprudência ou negligência são agravantes de um crime!
    Um beijão
    e obrigado pela sua participação maravilhosa, te admiro muito!

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