22 outubro 2009

Um comediante e uma incógnita: Idolatria = Covardia?




Olá, leitores do Pimentas.

Claro que meu texto de estréia não poderia ser sobre outro tema, né: comédia stand-up.

Porém, quero que me ajudem a pensar. Por quê será que existe tanto fascínio, admiração, babação de ovo e supervalorização dos meus coleguinhas do Rio e de São Paulo - os Gentilis, Bastos, Porchats, Adnets e Carusos da vida - enquanto a moçada das outras capitais - BH, inclusive - vive uma espécie de 'estado forçado de anonimato'?

As causas óbvias - vamo lá! - são: o mercado cultural do eixo Rio-SP é referência para todo o País, tudo que passa na "Grobo" o povo copia (ou pelo menos aceita como "Verdade Universal do Reino de Deus"), e, claro, o principal motivo: a grana está lá. Imaginem a reação de um patético mineirinho, nascido e criado em cidade do interior, ao ouvir um comediante paulista falar: "Ah, aqui neste bar não rola de apresentar não... A gente tá ganhando menos de 300 reais por show". Só não vou dizer o nome do comediante porque é sacanagem com o Fábio Rabin. Peraí. Pára tudo! "Liga a luz da boate e chama a polícia", como diria a Paloma Santos. 300 reais... "por show"? "Por show"?! Cara, se juntar tudo que eu ganhei em todos os shows de stand-up comedy que fiz desde 2004, deve dar o quê, uns 100 reais... (ok, exagerei, acho que 250).

Imaginem a cena: ele disse isso enquanto abria mais uma long neck, recém-saída do frigobar que eles têm à disposição para eles, no camarim. Um camarim gigantesco, com 2 banheiros totalmente equipados, melhores que os daqui de casa. E sim, o frigobar fica sempre entupido de coisas, somente para os artistas. Normal para um lugar que cobra R$ 35,00 por um misto quente, né? Aí eu te pergunto, prezado leitor e querida leitora: "Por quê eu teria inveja deles?".



Quem já morou ou trabalhou lá, sabe: se você ganha menos de 2 mil reais por mês em SP, pode literalmente 'passar fome'. O custo de vida lá não é só mais alto, é "Uhú! Ah, eu tô maluco!" de alto. Ou seja, qualquer comparação entre o que eles ganham lá e o que eu deixo de ganhar aqui não serve de base de comparação. São contextos quase antagônicos. Tem mais: eles não fazem questão de saber nem o nome dos grupos ou dos comediantes que fazem sucesso fora do mundinho deles. E, convenhamos, eles nem precisam, né? São idolatrados como jogadores da seleção brasileira, onde quer que vão. Dão autógrafos, cobram preços exorbitantes pelos ingressos e a maioria vive em uma espécie de 'transe auto-induzido por overdose de energéticos'. São 'zumbis' desprovidos das assim chamadas "emoções humanas".

E em quê eles são diferentes de nós, exatamente? Assistem às mesmas séries de tv a cabo (Two and a Half Men, Scrubs, Big Bang Theory, etc.), lêem os mesmos livros, ouvem as mesmas músicas... E falam as mesmas besteiras! Já tive o prazer de acompanhar o trabalho e a evolução de alguns humoristas que, sinceramente, humilham a 'elite' do stand-up que citei aqui (no segundo parágrafo, 'certo mano'?). É triste pensar que eles invariavelmente terão que tentar se estabelecer no Rio ou em São Paulo para serem reconhecidos nacionalmente.



O caso de Belo Horizonte, só para finalizar, é mais demente. Há alguns anos atrás estava andando pelo Mercado Central e vi um "ator Global" caminhando com sua trupe pelos corredores do mercado. Não vou citar o nome dele, claro, porque seria uma indelicadeza com o Vladimir Brichita. À medida que ia passando pelas lojinhas, ele ia ganhando as coisas 'de brinde'. "Toma esse queijo, pó levá!", "Esse aqui é o melhor doce da região, pó levá", "Essa aqui é minha esposa...". Enfim. Mentalidade de colônia pouca é bobagem. Enquanto nos comportarmos como caipiras idiotas, deslumbrados com o que "aparece na televisão" (CQC, MTV), nada mais justo do que continuarmos sendo tratados como imbecis, né? Cadê nosso amor-próprio, nossa auto-estima, nosso orgulho? Uai! E posso falar sobre isso com certa propriedade porque faço terapia há quase 20 anos para ver se recupero alguns destes, hã, 'itens'.

Ranieri Lima, 32, gaguejou ao pedir para tirar foto com o ator global, no dia do Mercado Central. Mas falou que não poderia comparecer à peça de teatro dele porque também estaria no palco, no mesmo horário, fazendo stand-up. Hehe. Mas foi no dia seguinte. Com cortesia. Ê, trem chique, sô! (rs)

5 comentários:

  1. rsrs... "A esposa do vizinho é sempre a mais gostosa", nunca estamos contentes com o que temos em casa.

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  2. Poxa... achei estranho, mas vms lá:
    Desde a mudança da capital para o Rio, formava-se o ponto forte do país... mas em momento algum esse eixo RJ/SP foi o mais talentoso ou o mais abençoado por Deus... essa região sempre dependeu e depende do país inteiro para as mais variadas funções. Como estamos falando de humor... e principalmente de stand up... deixo bem claro que a cena do humor paulistano hj, praticamente não tem filhos da terra no auge... olha só Danilo é de santo andré, Oscar é de atibaia, Diogo de curitiba, Rafinha é de porto alegre e pasmem Bruno Motta e Geraldo Magela de BH... além dos monstros como Chico do ceará e Zé Vasconcelos do ACRE!!!
    Então... não vejo dominação.
    Qto ao cachê/couvert, todo profissional trabalha para se manter, independente do amor que tem pelo que faz... se ele não ganhar grana ele não vive! Se hoje tem gente que cobra 40mil prá fazer um show é pq tem capacidade e ralou muito para chegar até lá... se vc acha que está ganhando pouco reveja seus conceitos pq seu trabalho é bom (pelos videos que vi).
    desculpe se falei demais... mas achei seu texto ofensivo e bairrista!
    muito trabalho e sorte para tds nós!

    Güeré

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  3. acho q batendo a cabeça na parede e criticando os outros vc nunca tera espaço ..murilo gun eh de recife murilo couto de belem ...rominho braga de belem ..nando viana do rio grande do sul todos tiveram espaços em sp porque invetiram e mostraram talento mas ofendendo a galera de sao paulo chamando de zumbis vc nunca tera espaço pois prepotencia nao gera talento !!

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  4. Engraçado que eu falei justamente o contrário do que foi comentado aqui... que cachês não servem de base de comparação, porque cada lugar tem um custo de vida diferente, etc. E invariavelmente a galera de SP valoriza mais os seus artistas, não interessa de onde eles vieram.O cara aqui tem que ir pro Rio ou pra SP porque quando ele volta pra cá todo mundo fala "poxa, ele é bom". Com grupos de música, teatro e dança também rola isso direto. É algo quase antropológico. Fiquei me perguntando o que poderia ser feito para mudar esse paradigma, porque com o standup não precisa ter nada disso, claro.

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  5. exemplos de banda: Sepultura, Jota Quest, Skank, Pato Fu... e muitas outras que não me lembro agora.
    teatro: Grupo Corpo e Grupo Galpão, que são os mais conhecidos.

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