05 novembro 2009

Faustão: quem chega lá, morre!



Olá, leitores do Pimentas.

Gostaria de dizer algumas palavras a respeito do quadro "Quem Chega Lá", do Faustão, que tive o desprazer de tentar assistir ontem, na Globo. Detalhe: a tv estava no "mudo" e mesmo assim foi insuportável.

A iniciativa de tentar revelar novos talentos do humor no País é, obviamente, louvável, porém a exposição ao constrangimento público, puro e simples, deveria ser punida de forma severa no código penal. Exemplo: "qualquer pessoa que for obrigada a suportar a voz do apresentador Fausto Silva por mais de 10 (dez) segundos ininterruptos, tem direito a pensão alimentar vitalícia de R$ 2.000,00 (dois mil reais) a ser paga pelo próprio apresentador Fausto Silva". Pronto. Seria um começo.

Em inglês existe um termo muito bacana, para mostrar indignação diante de uma atitude, pessoa, comportamento, etc.:"this is wrong in so many levels". Ou seja, "isto está errado em tantos níveis...". Que é exatamente a sensação que se tem durante o quadro "Quem Chega Lá".

Claro que o leitor apressado pode passar os olhos por essas linhas e achar que tenho alguma frustração por nunca ter "aparecido no Faustão". A estes eu recomendo que continuem assistindo ao "Quem Chega Lá" e continuem rindo da desgraça alheia. Alguém tem que exercer este papel.

E já que a coisa tem "tantos níveis" de "errado", vamos a eles:

Os caras que se protegem sob a égide de um personagem, com máscaras, figurinos, maquiagens, perucas, acessórios, etc. - chegando ao absurdo de expor um santo com muletas (?), com voz forçadamente embriagada (e muito falsa), e passando pelo bom e velho uso do clichê "homem vestido de mulher", o que se viu foi um lamentável festival de bizarrices cujo único propósito foi mesmo o de provocar o famoso "riso por pena". Interessante notar que mesmo entre as camadas mais baixas da sociedade, com menor grau de instrução, etc. - também conhecidas como "audiência da Globo" - a rejeição e o estranhamento foram onipresentes. "Nossa, ele é muito ruim", "Tadinho" e "Esse não merecia chegar não" foram provavelmente os comentários que ecoaram em todos os cantos do país durante a transmissão da "vergonha alheia"em rede nacional.

Aqueles que simplesmente não estavam preparados para aparecer - muitas vezes a oportunidade bate à porta antes da maturidade mostrar o ar de sua graça. O resultado disso é que a pessoa quase sempre fica sem graça e muitas vezes sem ar. Aparecer na televisão, em qualquer canal que seja, requer o mínimo de preparo psicológico, emocional, intelectual, experiências de vida, amadurecimento pessoal e profissional, segurança, auto-estima elevada "acima do nível do mar" e milhares de outras "coisinhas" que não vêm ao caso aqui. Visivelmente, até mesmo aqueles que se apresentaram sem estarem protegidos por um personagem demonstraram insegurança, medo, desconfiança, ansiedade. O público, claro, percebeu tudo na hora. E obviamente nem todos que participam do quadro se encaixam nesta categoria.

O "falso-empolgado" - esta é uma categoria à parte. Sabe aquele sujeito que entra no palco sorrindo, pulando, gargalhando, querendo falar o tempo todo, interrompendo ele mesmo (mas sem ser o Faustão) e que você tem o impulso de 'entrar de voadora na cara dele'? Pois é. Este é o "falso-empolgado" ou "falso-feliz", uma categoria que puxa inclusive um outro termo que começa com "f". Independentemente se estiver interpretando um personagem, ou sendo ele mesmo, o cara - ou a mulher, claro - que usa tal artifício geralmente sustenta empatia com o público nos primeiros 2, 3 minutos. Tá, vá lá, uns 5, 10 minutos no máximo, para os que sofreram lavagem cerebral. Depois disso... Bom, é melhor ter alguém "vindo de voadora" logo.

Sei que estou me esquecendo de mencionar outros tipos, mas a crítica aqui é uma só: acabem com essa merda. Show do Tom, Quem Chega Lá, etc, tudo isso deveria ser estudado com muito critério antes de ir pro ar . E as pessoas que conseguissem gravar e aparecer nestes quadros deveriam no mínimo receber um suporte emocional e psicológico irrestrito antes de ficarem em frente às câmeras. Não garantiria um resultado melhor, claro, mas talvez teríamos curiosidade de tirar a tv do "mudo" de vez em quando.

2 comentários:

  1. Professor Ranieri,

    Espero sinceramente que este seu post vá parar nas mãos de alguém na Globo e nos outros canais que exploram o humor de forma tão inconsequente.

    Você acaba de nos mostrar um lado do humor que não se percebe sem o conhecimento da técnica que existe por tras do mesmo. Parabéns pelo post! Excelente!!

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  2. Uau! Puxa vida, André, muito obrigado pelos comentários, cara! Valeu mesmo! Abração!

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