Olha só, tem cego na novela!

Oi povo do Pimentas!


Um amigão me contou que esses dias na novela Caras & Bocas aconteceu uma coisa esquisita. Nas palavras do meu amigo, que assiste a novela (e eu não): “Danieli Haloten, primeira atriz cega a aparecer numa novela global, abre a porta do escritório pra ir embora. Mal ela abre a porta, já vai dizendo: "entra". Isso, sem que a visita tivesse dito sequer uma palavra. Ela simplesmente abriu a porta e disse "entra". E aí a visita disse um discreto "oi" e entrou.”

Como diria o Ivo Holanda: produção! Pô, ninguém pra instruir a menina?

Deixa eu começar do começo. Sabe aquela novela da Glória Perez que tinha o Marcos Frota fazendo o Jatobá? Bom, nada anormal ter o Marcos Frota em novela da GP, mas enfim: ela procurou se informar sobre os problemas e necessidades dos cegos pra criar o personagem. Troquei muitos emails com ela falando sobre experiências minhas, uma delas inclusive foi ao ar: a cena em que ele vinha pela calçada, bengalinha em punho, e dá de testa em um orelhão.

Bem, não é esse o ponto deste post. Até porque não sou totalmente cega, e pouca gente sabe que existe a baixa visão, ou visão subnormal. E isso só foi retratado uma vez em novelas: Mulheres Apaixonadas. Lembra que o Tony Ramos tomou um tiro e ficou com a visão prejudicada?

Foi uma das atuações mais impressionantes que já tive notícia. As pessoas que convivem comigo falavam que era absurda a semelhança dos trejeitos que ele usava. É difícil explicar, mas o jeito de olhar pras coisas e não achar, ficar olhando em volta até que “acha o foco”. Usar as mãos pra achar as coisas, às vezes derrubar um copo, às vezes errar a comida no prato.


O Marcos Frota foi fraco em sua atuação, mas sou suspeita, acho ele muito limitado como ator. A Bruna Marquezini foi melhor, fora que ela tinha uma amiguinha cega (que realmente era cega) que facilitava a atuação – ela tinha um comparativo.

Ah, e teve o caso mais preconceituoso que já vi – e essa eu vi! Lembra da novela da Mamushka? Não lembro o nome. A Aline Moraes, aquela linda, teve que fazer uma cirurgia no cérebro e corria o risco de perder a visão. Um dos filhuscos, ao saber, afirma: “puxa vida, ela é tão linda, vai ser uma pena se ela ficar cega”. Putamerda, se ela fosse feia podia cegar? E eu devo ser meio bonita, meio feia, então.

A melhor abordagem foi feita pelo Saramago, em seu “Ensaio sobre a cegueira”. Não leu ainda? Eu já.

Bom, voltando ao topo do post: a cega abre a porta, diz "entre". Na vida real isso é muito possível. Ela pode ter escutados os passos, a leve batida na porta. E o mais comum: a percepção de presença. Lembra: a perda de um dos sentidos deixa os outros mais ativos. No caso dos deficientes sensoriais, o sexto sentido é o quinto!

Faça um teste aí: fique em pé, de costas para um poste, uma porta entreaberta, cois assim. Feche os olhos e tente "sentir" se tem algo ali diferente do ar... Vai, tenta, não seja desagradável!



Vou ali ajudar um ceguinho a atravessar a rua, até mais!