02 setembro 2009

Zabelê, Zumbi, Besouro...?

Amigos leitores do Pimentas no Reino,

Gosto de MPB, apesar de não concordar com essa nomenclatura. Música Popular Brasileira não é o que fazem os cânones daquilo que se convencionou chamar de MPB. Popular hoje é a Ivete Sangalo Popular já foram Odair José, Reginaldo Rossi, Sidney Magal...

Perto desses, Chico Buarque e Caetano Veloso são eruditos. Aliás, perto desses e de quaisquer outros, até pelo fato de serem eruditos mesmo. Geniais. Brilhantes.Mas não é esse o tema do post. Quero falar sobre algumas letras incompreensíveis da nossa MPB (aquela, consagrada como tal) mas que não ousamos questionar. Não ousamos questionar por terem sido feitas em condições históricas favoráveis: anos 70, anos 80, fim da ditadura.

Tudo que soasse libertário, com algum acento brasileiro, tinha que ser automaticamente aceito pelas elites universitárias da época, pela classe média da Zona Sul do Rio de Janeiro, pela turma boêmia da Vila Madalena...

Aí, aproveitando essa esteira, muitos artistas se aproveitaram para escrever coisas sem muito sentido, com uma melodia bacaninha e pronto - apareciam como caras cults, mais ou menos como se fossem uma legião de Jorges Vercilos e Carlinhos Browns...

Vamos ao ponto:

Zabelê, zumbi, besouro, vespa fabricando mel
Guardo teu tesouro, jóia marrom, raça como nossa cor
Nossa linda juventude, página de um livro bom
Canta que te quero cais e calor, claro como o sol raiou
Claro como o sol raiou
Maravilha, juventude, pobre de mim, pobre de nós
Via Láctea, brilha por nós, vi...das pe..que..nas da esquina
Fado, sina, lei, tesouro, canta que te quero bem
Brilha que te quero luz andaluz, massa como o nosso amor

Nossa linda juventude, página de um livro bom
Canta que quero cais e calor, claro como o sol raiou
Claro como o sol raiou
Maravilha, juventude, tudo de mim, tudo de nós
Via Láctea, brilha por nós, vi...das bo..ni..tas da esquina

Leram? Certamente, como eu, até cantarolaram... Entenderam? Então me expliquem, por favor...

É mais fácil entender uma música do Maná ou dos Beatles (seriam eles os besouros citados nessa música?).

Diria Rubem Alves que a esquerda é contra o prazer e o ato de interpretar uma poesia é um erro: que o artista quis dizer exatamente aquilo que ele disse, e essa coisa de ler as entrelinhas é uma forma de estragar a obra artística.

Pensemos em outra música...qualquer uma dessa época...vejamos...Frevo Mulher, o refrão (podia ser qualquer outro trecho):

(...)É quando o tempo sacode
A cabeleira
A trança toda vermelha
Um olho cego vagueia
Procurando por um (...)


Esse papo de "um olho cego vagueia rocurando por um..." não é estranho? Não nos remete àquela célebre capa do disco do Tom Zé ? Não sabe do que estou falando? "Aquela..."

Viu? Certamente a recíproca não foi verdadeira...É o famoso "olho cego" que deve estar a procura de algo que não sabemos o que é...

Pra fechar, uma que gosto muito. Gosto mesmo. Tenho essa música onde quer que esteja. No meu carro, no meu MP3, no computador... Mas sou o primeiro a reconhecer que é estranha. Segue a letra na íntegra...

O azul de Jezebel no céu de Calcutá, feliz constelação
Reluz no corpo dela, Ai tricolor colar !
Az de Maracatu no azul de Zanzibar
Ali meu coração zumbiu no gozo dela
Ai, mina, aperta a minha mão
Alah, meu only you no azul da estrela !
Aliás, bazar da coisa azul, meu only you
É muito mais que o azul de Zanzibar
Paracuru, o azul da estrela, o azul da estrela


Tudo bem que vindo de um grupo chamado a "Cor do Som", não podemos esperar nenhum primor de lógica, mas falar em "bazar da coisa azul"... seria a loja oficial das coisas do Cruzeiro de Belo Horizonte ? A loja do Palmeiras, aqui em São Paulo, chama-se Ponto Verde. Se não é, fica a sugestão...

Só um detalhe: qualquer música estranha desse período da MPB é e sempre será melhor do que qualquer funk carioca, axé baiano, sertanejo goiano e calypso paraense....

17 comentários:

  1. Cheguei a esse site justamente tentando entender essa música "Linda Juventude - 14 Bis", mas a melodia é linda!

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  2. Encontrei aqui a explicação dessa música https://orkut.google.com/c129271-t5bcddfebb13fe97b.html

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  3. Kkkk, achei que só eu não tinha compreendido. Esses caras não podem partir sem nós darem explicação desses composições... A música é belíssima, adoro, mas a poesia é lé com cré né? Vamos pedir explicação.

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    1. Eles vão dar as explicações, só lá do outro lado , conforme o cara chegar...Entao espera sua hora...

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  4. Adorei o comentário e concordo que mesmo sem entender ulguma parte é melhor que todas citadas. Kkkkk. Páginas de um livro bom sem dúvidas.

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  5. Vc tem q se teletransportar para lá senão vai ser difícil vc entender.

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  6. Vc já conheceu alguém cujo sorriso prende inebria entontece?Mas já foi assim descrito. Só vivendo na época para realmente sentir

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  7. Eu acrdito que existem músicas muito mais comolexas do que as wue foram citadas. Em "Linda Juventude" Flavio e Marcio, fazem uma homenagem aos tempos do clube da esquina, quando eram jovens e ingênuos e pesavam em mudar o mundo, a começar pelo nosso país.
    O clube da esquina surge na década de 1970 como um movimento cultural, artístico e político em BH, mais precisamente no bairro santa tereza. Nessa poesia, venturini e borges, lembram destes momentos, em que eram um tanto revolucionários, ou pelo menos se viam como tais; na minha perspectiva explica as citações aos revolucionários de suas épocas: zumbi e besouro. O restante da musica soa como um olhar nostálgico ao passado deles, enquanto os lança uma percepção de que não mudaram o mundo, ao contrário, o mundo que acabou mudando eles.
    Concordo em parte com o que foi dito no início do seu texto Fernando Miller, também denfendo uma ideia de livre interpretação, sobretudo no que se trata de musica, afinal só quem realmente sabe o que foi dito é o compositor. Contudo, no que tange ao que é de fato MPB, é justamente o que é popular em cada momento da história. Caetano, chico, Vandré, venturini, milton nascimento, raul seixas, enfim, todos eles foram populares em seu tempo. Podem não ser populares hoje em dia, no entanto tiveran seus momentos. MPB é musica popular, não se trata de ser boa ou ter letras filosóficas, ou de protesto. MPB é cultura! Mas é necessário compreender de quando se trata de cultura, não fazemos juízos de valores, ou seja, se é bom ou ruim, tento em vista que não existe um padrão cultural superior e outro inferior. Desta forma, se faz importante reconhecer este fato, para não cometermos ações, ou lançarmos etnocenticos.

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    1. Kkk corrigindo palavras no texto: "comolexas" - COMPLEXAS;
      "wue" - QUE
      "os" - NOS (...nos lança uma perceção...)
      "de" - QUE (...mas é necessário compreender que quando se trata de cultura...)
      "comentários" (...lançarmos comentários etnocentricos.)

      Me desculpem os erros, escrevi o comentário através do celular, e não corrigi antes de clicar na opção publicar.

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    2. Olá, adorei o seu comentário. Existe tantas músicas nossas da MPB que eu adoraria saber o que há por trás e esta aqui vc conseguiu me esclarecer. Muito obrigada 😘😘

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  8. Ops.; retificando: Zabelê, Zumbi e Tesouro eram os apelidos do "padrinho" da banda, ninguém menos que o cantor Milton nascimento; a "Jóia marron" foi homenageada com essa linda canção que nos cativa e celebra a alegria da juventude. Um grande abraço à todos.

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  9. E o outro refrão? Fado, sina , tesouro?

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  10. Adorei a explicação e os comentários... Também procurei para saber... A única coisa que não me conformo é a Baby Consuelo que agora é do Brasil, ter colocado o nome da filha de Zabelê... A mesma adorou tanto esse nome que até trocou...kkkkk

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  11. Ahhh nao faz sentido? Nao sabe quem fotam Zabelê, nem Zumbi nem Besouro??

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